Resumo
O trauma facial pode ocasionar consequências emocionais em razão da possibilidade de deformidade e também impacto econômico aos sistemas de saúde (HSUEH et al., 2016). O terço inferior da face é frequentemente atingido por traumas devido à topografia, anatomia e projeção. As fraturas mandibulares podem causar deformidades por deslocamentos ou perdas ósseas não restauradas, com alterações na oclusão dentária ou na articulação temporomandibular (ZACHARIADES; PAPADEMETRIOU; RALLIS, 1994). Quando não identificadas ou tratadas adequadamente, essas lesões podem levar a sequelas graves e permanentes, tanto estéticas como funcionais (MANSON, 1990).
As fraturas mandibulares podem ser classificadas diante da região anatômica (sínfise, corpo, ângulo), do padrão de fratura (galho verde, simples, complexa) e inserção muscular (favorável ou desfavorável). A classificação de uma fratura mandibular complexa se dá quando há o acometimento de regiões anatômicas distintas (FONSECA et al., 2015). As fraturas da cabeça da mandíbula dividem-se em intracapsulares e extracapsulares. As intracapsulares ocorrem acima das inserções da cápsula articular, e classificam-se em horizontais, verticais ou compressivas. As extracapsulares (colo/pescoço da cabeça da mandíbula e as subcondilares) ocorrem fora dos limites da cápsula articular, também classificadas em fraturas com deslocamento (para região medial, lateral e exterior da cavidade glenoide) ou sem deslocamento (TUCKER et al., 2013).
Para melhor diagnóstico e localização dessas fraturas, exames complementares, como as radiografias do tipo panorâmicas, lateral oblíqua de mandíbula direita e esquerda, póstero-anterior (PA) de mandíbula ou de face, são utilizadas Towne Reversa (AP modificada) e ATM. Porém o padrão ouro para identificação e localização das fraturas, assim como para determinar a extensão e visualização tridimensional são as tomografias computadorizadas de face (BOUCHARD; MANSOURI, 2017; GUVEN et al., 2015).
As fraturas da cabeça da mandíbula podem ser tratadas conservadoramente, utilizando imobilização e fisioterapia para restabelecimento funcional. Com o advento dos sistemas de fixação interna rígida FIR, houve a abertura de novas possibilidades para a indicação do tratamento cirúrgico. Entretanto, em virtude da biomecânica da ATM, da complexa anatomia local, da natureza da fratura, das peculiaridades de cada paciente e da diversidade de resultados com o mesmo tipo de tratamento, poucas áreas da cirurgia oral e maxilofacial têm gerado tanta controvérsia quanto à melhor forma de tratamento (KOMMERS; BOFFANO; FOROUZANFAR, 2015). A conservadora pode ser realizada por meio de mobilização mandibular imediata ou bloqueio maxilomandibular por duas semanas, alívio sintomático, dieta líquida/pastosa e fisioterapia. O tratamento conservador é uma conduta tomada quando uma fratura é favorável, pois não é deslocada pela ação dos músculos da mastigação, logo, sem deslocamento dos fragmentos ósseos. Nestes casos, com o acompanhamento clínico e orientação, haverá a consolidação óssea. Todavia, em alguns casos, o cirurgião apenas executa uma fixação intermaxilar (RAMPASO et al., 2011).
As técnicas de tratamento do tipo aberta podem ser realizadas através de acessos extraorais em pele ou então por vias de acesso intrabucais. Normalmente quando a técnica aberta é escolhida, ocorre a utilização de acessos cutâneos, sobretudo os pré-auriculares, a fim de visualização direta com alta previsibilidade de sucesso e, com o objetivo de redução das sequelas irreversíveis, tais como paralisia facial, necroses teciduais bem como formação de cicatrizes (MENDONÇA et al., 2013).
A Associação Americana de Cirurgia Oral e Maxilodacial (AAOMS), por meio de uma comissão, propôs parâmetros para a redução aberta nas seguintes situações: evidências clínicas ou imaginológicas de fratura, maloclusão, disfunção temporomandibular, presença de corpos estranhos, presença de lacerações e/ou hemorragia no conduto auditivo externo, hemotímpano, presença de fluido cerebroespinhal no conduto auditivo externo (HAUG; DODSON; MORGAN, 2012).