Resumo
O termo reabsorção dentária inclui todas as situações em que os tecidos dentários mineralizados são eliminados pelas células clásticas em algum ponto da superfície interna ou externa do dente, que envolve variáveis anatômicas, fisiológicas, patológicas e fatores mecânicos, constituindo uma situação clínica indesejável em que o clínico deve estar atento e desperto para o seu diagnóstico e tratamento (SILVA; GESTEIRA, 2015). O processo de reabsorção envolve a perda de estruturas dentárias, como dentina e cemento e também do osso alveolar, sendo resultante da atividade de células clásticas e causado por fatores fisiológicos, patológicos ou idiopáticos (GUNRAJ, 1999).
A raiz dentária normalmente é resistente aos estímulos que levam à reabsorção, o que se deve à proteção de tecidos não mineralizados, como a pré-dentina e a camada odontoblástica, internamente, e do pré-cemento, externamente. Esses tecidos desempenham importante papel na resistência dos dentes às reabsorções, pois impedem a ação clástica da dentina mineralizada (CONSOLARO, 2005).
Para iniciar o processo de reabsorção radicular é necessário que ocorra uma injúria aos tecidos não mineralizados que cobrem a superfície externa da raiz, como o pré-cemento, e a superfície interna do canal radicular, como a pré-dentina e a camada odontoblástica. Os fatores relacionados com a etiologia das reabsorções são traumatismo, reimplantes, transplantes, procedimentos cirúrgicos e restauradores, fratura dentária, tratamento ortodôntico, pressão excessiva de dentes impactados ou tumores, agentes clareadores, inflamação pulpar e periodontal (FUSS; TSESIS; LIN, 2003).
As reabsorções radiculares têm dois mecanismos básicos de ocorrência, muito bem compreendidos: inflamatório ou por substituição. As reabsorções representam dentes estético e funcionalmente adequados. Os mecanismos das reabsorções dentárias só não induzem alterações pulpares, periapicais e periodontais, sendo, geralmente, consequências dessas. As reabsorções dentárias são alterações locais e adquiridas, e não representam manifestações dentárias de doenças sistêmicas (CONSOLARO, 2011).
As características radiográficas da reabsorção são a ausência do espaço do ligamento periodontal em toda a superfície radicular ou apenas uma parte da raiz. A junção amelocementária é localizada mais apical nos dentes que sofreram a luxação do que em dentes não acidentados adjacentes, por vezes, até mesmo apical ao nível ósseo marginal (ANTHONY, 2012; ZALECKIENE, 2014).
A manutenção do processo de reabsorção depende de fatores de estimulação das células osteoclásticas, como infecção (GUNRAJ, 1999); (TRONSTAD, 1988); ou pressão (TRONSTAD, 1988). A ausência de tais estímulos promove a cessação do processo reabsortivo (podem se localizar em diferentes pontos da raiz – terço cervical, médio ou apical) e, conforme sua extensão, tornam-se comunicantes, ligando a cavidade pulpar ao periodonto (CONSOLARO, 2005).
A reabsorção radicular pode ser classificada em interna ou externa, de acordo com a sua localização. No que diz respeito à reabsorção radicular interna, esta começa no interior do canal radicular e se não for detectada precocemente, leva à perfuração da raiz, ao contrário da reabsorção radicular externa, que se inicia na superfície radicular ou junção amelocementária (THOMAS, 2014; LLAMAS-CARRERAS, 2010).
A identificação das reabsorções internas não apresenta maior dificuldade tanto para especialistas quanto para clínicos gerais, pois os aspectos radiográficos são bastante claros. No que tange às reabsorções radiculares inflamatórias externas, as complicações interpostas para o qualificado diagnóstico radiográfico devem-se à imagem difusa, pouco nítida, provocada pela destruição tecidual em paredes variadas da raiz (LLAMAS-CARRERAS, 2010).
A reabsorção radicular externa ocorre por dano ao cemento como resultado frequentemente da lesão crônica que afeta o ligamento periodontal como o tratamento ortodôntico, a oclusão traumática e a pressão proveniente a partir de um quisto, granuloma ou um dente ectópico. A reabsorção externa é classificada em reabsorção de superfície, reabsorção externa inflamatória, reabsorção externa por substituição e a reabsorção cervical (LLAMAS-CARRERAS, 2010).
A reabsorção radicular, segundo Brezniak e Wassertein (1993), constitui um fenômeno de causa desconhecida, que frequentemente está associada ao tratamento ortodôntico, sem contudo, comprometer a longevidade dos dentes envolvidos, mas pode influenciar nos benefícios de uma terapêutica bem sucedida. Por outro lado, Barher e Sims afirmaram que é incerta a longevidade do dente acometido por uma reabsorção radicular.
A reabsorção radicular idiopática ocorre por um mecanismo desconhecido, levando à reabsorção do cemento, dentina e/ou esmalte, e que tem sido denominado como “idiopática” (CARDOSO, 2008). Segundo os autores, as causas desta alteração podem ocorrer devido à ação dos osteoclastos induzidos microbiologicamente, à atividade inflamatória crônica, ao trauma oclusal, ao movimento ortodôntico, ou estar associado a doenças como a displasia ectodérmica, esclerose tuberosa causada pelas anormalidades ectodérmicas, osteogênese imperfeita causada pela mesoderme anormal ou doenças virais. Embora seja pouco frequente, divide-se em apical e cervical. Reabsorção radicular cervical começa na região cervical e progride em direção da polpa, enquanto a reabsorção radicular apical afeta a porção apical da raiz dentária e provoca o seu encurtamento gradual. A característica clínica mais comum da reabsorção radicular idiopática é que os pacientes são assintomáticos com uma queixa ocasional de mobilidade dentária (CARDOSO, 2008).