Resumo
O cisto odontogênico calcificante (COC) é uma lesão incomum que acomete a cavidade bucal, representando menos de 1% de todos os cistos de origem odontogênica (JAEGER et al., 2017). Este cisto também é conhecido como cisto de Gorlin, tumor odontogênico cístico calcificante ou cisto odontogênico calcificante de células-fantasmas (GADIPELLY et al., 2015; NEVILLE et al., 2016; CHAN, 2017).
O COC foi descrito como uma lesão patológica por Gorlin em 1962. Em 2005, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou esse cisto como um tumor cístico benigno derivado do epitélio odontogênico, podendo ou não conter tecido mineralizado. Em 2017, a OMS reclassificou essa lesão como cisto. Segundo alguns pesquisadores, há poucas ou nenhuma justificativa para classificá-la como uma neoplasia. Sua versão sólida contendo células-fantasmas permanece classificada e denominada como tumor dentinogênico de células-fantasmas (CHAN, 2017; WRIGHT; VERED, 2017).
Clinicamente, o COC apresenta-se como uma lesão assintomática, de desenvolvimento lento, com predileção pela região anterior dos ossos gnáticos. No entanto, a mandíbula e a maxila são afetadas com a mesma frequência. A faixa etária de ocorrência é ampla, contudo, indivíduos entre a segunda e terceira décadas de vida são os mais acometidos. Raramente o COC é encontrado em pacientes na primeira década de vida (JONES; CRAIG; FRANKLIN, 2006).
O COC é dividido em uma forma periférica (extraóssea) e uma central (intraóssea). A forma periférica é menos comum e clinicamente surge como um aumento gengival em pacientes com idade mais avançada. A forma central acomete pacientes mais jovens e exibe uma taxa de recidiva maior. A variante periférica não é invasiva e não recorre após a excisão (LEE; KIM, 2014; LEDESMA-MONTES et al., 2008).
Radiograficamente, o COC apresenta-se como uma lesão predominantemente unilocular com aspectos radiolúcidos ou mistos, dependendo do grau de mineralização do cisto (HONG; ELLIS; HARTMAN, 1991). Em alguns casos, o COC pode estar associado a dentes não erupcionados (NAGAO et al., 1982). O deslocamento dentário e a reabsorção radicular são descritas para o COC. As corticais ósseas podem exibir expansão e adelgaçamento e, eventualmente, o rompimento pode ser identificado (KRAMER; PINDBORG; SHEAR, 1992).
Suas características clínicas e radiográficas não são patogmônicas, sendo caracterizadas principalmente por suas características histopatológicas (UTUMI et al., 2012). Histologicamente, o COC é uma lesão cística revestida por um epitélio cuboide ou colunar, semelhante aos ameloblastos, contendo células-fantasmas e calcificações. Pode ser considerado como um análogo oral do epitelioma calcificante de Malherbe (Pilomatricoma) que ocorre na pele, devido à presença de células-fantasmas em ambas as lesões (BALAJI; ROOBAN, 2012).
O COC intraósseo é tratado, principalmente, por enucleação. Essa conduta terapêutica é mais conservadora e apresenta um bom prognóstico, com baixa taxa de recidiva, ocorrendo em <5% dos casos realizando um acompanhamento por período prolongado (BUCHNER, 1991; SOUZA et al., 2007; CHINDASOMBATJAROEN; POOMSAWAT; KLONGNOI, 2012).
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi relatar um caso de COC, mostrando seus aspectos clínicos, radiográficos e histopatológicos.