Resumo
A varicosidade ou variz caracteriza-se por ser uma veia anormalmente distendida e muitas vezes tortuosa, sendo comum em idosos. Tipicamente, ocorre nas extremidades inferiores, principalmente devido à pressão ortostática relativamente alta e a uma falha das válvulas intravenosas que, normalmente, impedem a pressão excessiva nestes vasos. Quando em cavidade oral, ocorrem na região sublingual, em dois terços das pessoas com mais de 60 anos, sendo geralmente assintomáticas, exceto quando ocorre trombose secundária (TERAA et al., 2013; NEVILLE, DAMM, 2016).
Varizes raramente ocorrem na parte superior do tronco, entre estas, as orbitárias apresentam a maior incidência. Varizes da veia facial ou seus ramos diretos foram relatados com pouca frequência e estão frequentemente trombosadas no momento do diagnóstico (WRIGHT et al., 1997; NISHIMURA et al., 2002; SANO et al., 1988; YAMAMOTO et al., 2017; TERAA et al., 2013; WEATHERS; FINE, 1971).
Como diagnóstico diferencial de uma variz, podemos destacar o hemangioma e malformação vascular, os quais também são lesões vasculares benignas comuns na região de cabeça e pescoço, porém, estudos sobre a prevalência dessas lesões em boca são escassos. Em um estudo brasileiro, que abordou a avaliação de 2.419 fichas clínicas, cento e cinquenta e quatro (6,4%) casos foram categorizados como hemangioma, malformação vascular e variz de boca, sendo esta última a alteração mais frequente (65,6%). O estudo sugeriu que lesões vasculares benignas são alterações incomuns na mucosa bucal e nos maxilares (CORREA et al., 2007).
Para um diagnóstico adequado de variz, há de se destacar que as malformações venosas crescem proporcionalmente com a criança e se expandem lentamente, mas podem aumentar rapidamente com a presença de trombose. Elas são facilmente compactadas e podem ser diagnosticadas em radiografia simples, como nódulos radiopacos (MARLER; MULLIKEN, 2005). Embora não existam malformações venosas hereditárias, o defeito pode ser geneticamente baseado e secundariamente expresso nos primeiros anos de vida, como na síndrome de Rendu-Osler-Weber. Malformações vasculares geralmente se desenvolvem de forma proporcional ao crescimento do indivíduo, mas podem aumentar de tamanho secundariamente a vários fatores desencadeantes, como aumento do fluxo sanguíneo, oclusão arterial e trombose (NIIMI; SONG; BERENSTEIN, 2007). As malformações vasculares ocorrem com maior frequência nas regiões maxilofacial. Embora muitos casos de malformações vasculares com flebolitíase tenham sido relatados, apenas poucos relatos documentaram casos de formação de trombose (YAMAMOTO et al., 2017; MATSUMURA et al., 2004).
Uma das etiologias das malformações vasculares são as micropartículas, vesículas de membrana liberadas de vários tipos de células, incluindo plaquetas, monócitos, células endoteliais e eritrócitos. As mesmas exibem atividade pró-coagulante reforçada, devido ao tempo de coagulação significativamente menor, logo, um perfil alterado de micropartículas pode estar relacionado com trombogênese associada à malformação venosa (GONG et al., 2012; ZHU et al., 2017).
Para a formação de um trombo, as etiologias são diversas, por meio de alterações da vasculatura, fatores de coagulação ou plaquetas. Deve-se considerar que, muitas vezes, é impossível discernir entre um defeito primário vascular ou dano que foi induzido por ativação ou disfunção plaquetária ou anomalia pró-coagulante (BICK, 2001).
Raros casos de variz trombosada em regiões profundas e sem aspectos clínicos por inspeção foram relatados na literatura, sendo necessário exame imaginológico para a identificação da lesão e posterior exame patológico, revelando que o nódulo palpável seria uma veia varicosa trombosada, incluindo um trombo organizado com capilarização detectada em parede de veia dilatada (NISHIMURA et al., 2002; SANO et al., 1988; YAMAMOTO et al., 2017).